quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Mochilando na Ásia

Poucas são as palavras para se descrever a beleza do sudeste asiático. Você pode passar meses viajando em apenas um dos seis países da região e ainda vai faltar coisa para ver. Infelizmente eu tinha apenas três semanas livres e meu plano inicial de ir até Burma (atual Myanmar) e me estender um pouco até o Vietnã teve de ser abortado pois seria muita correria e não teria tempo para realmente aproveitar cada lugar visitado.

Simplifiquei o roteiro traçando uma linha reta de Phuket, no sul da Tailândia, passando por Bangkok e Vientiane, capital do Laos, e indo até Luang Prabang.


A ilha de Phuket fica distante apenas uma hora e quinze minutos de vôo de Kuala Lampur. Lembra Florianópolis em muitos aspectos pois possui várias praias, algumas até bem exóticas.

O que chama à atenção já de cara é a gigantesca infra-estrutura turística da ilha, muito bem preparada pra receber viajantes. Você chega e não perde tempo tentando descobrir como chegar ao seu hotel.

Serviços de transporte são muito bem sinalizados e logo depois de desembarcar eu já estava dentro de uma van a caminho de Karon Beach, onde me hospedei.

Os hotéis em geral são muito bons e os preços não assustam muito, as opcões de lazer também são bem variadas sem contar que você pode alugar uma scooter por U$4 o dia e rodar por toda a ilha sem se preocupar em esperar ônibus ou negociar preço com os motoristas de tuc-tuc.


A maioria dos turistas que você encontra por lá é escandinava. Na beira da praia você não ouve inglês, mas sim muito sueco! Não é à toa que a Suécia foi o país com o maior número de vítimas entre os turistas estrangeiros quando as ondas do Tsunami atingiram a ilha em dezembro de 2004.


Phuket foi um dos locais mais castigados pela tragédia no país, mas hoje já se recuperou quase que completamente. Só no ano passado 4,7 milhões de turistas visitaram esse paraíso tropical. Nos anos anteriores à catástrofe a média era de cinco milhões. Hoje existem várias estações de controle e placas espalhadas por todos os lugares para orientar turistas e moradores sobre as melhores rotas de fuga.


Karon beach é a praia mais procurada pelos visitantes e é realmente linda e mais linda ainda é Kata Beach, que fica do lado, mas ambas são urbanizadas demais, muito diferentes daquela imagem rústica que eu tinha sobre as praias da Tailândia.

Por causa disso fiquei lá apenas dois dias, esticado na praia, bebendo água de coco e fazendo nada, é claro. Depois ensaquei as roupas e peguei uma balsa para Rai Leh Beach. A praia fica numa península e por causa do terreno montanhoso, o acesso por terra é inexistente. Para se chegar lá só mesmo de barco!


A viagem dura quase duas horas e quando cheguei tive todas as minhas expectativas confirmadas. Lugar digno de um cartão postal sem alterações de photoshop: areia branca, água azul turquesa e rochedos imensos. No hotel o único luxo do quarto eram as telas pra mosquito nas janelas. O banho era frio mesmo, o que para um lugar onde a temperatura média é de 35 graus acaba virando um conforto. O local é realmente sensacional, é natureza no seu mais puro estado. Fiquei lá três longos dias e quase adiei minha ida à Bangkok.


Bangkok

Nem havia me acomodado no assento direito e o motorista do tuc-tuc já saiu falando "Aqui na Tailândia só tem duas estações: quente e mais quente ainda". Com certeza falou isso depois de me enxergar pelo espelho retrovisor completamente lavado de suor. A viagem de ônibus para Bangkok levou 12 horas e cheguei lá achatado. Diferente da organização de Kuala Lumpur, a cidade é tudo aquilo que eu havia ouvido falar: enorme, barulhenta e poluída. Me senti em casa de cara, é dessa bagunça quase brasileira que eu gosto.


Eduardo Oliveira /Preview.com


Budistas (85%), islâmicos (6,8%) e cristãos (2,2%) convivem na Tailândia


O calor que encontrei em Bangkok foi algo fora do comum. Por dia se foi uma média de três camisetas. Tomava um banho frio ao acordar e outro antes de dormir. Sem falar que no meio da tarde toda vez que eu passava perto do hotel dava um pulo no quarto pra tomar outra ducha.


Quando uso a palavra "hotel" estou sendo generosíssimo! Quem já foi sabe, se você está mochilando e com grana curta não tem porquê gastar com frescura na hospedagem, afinal o quarto só vai ser usado para dormir e acordar. Os tailandeses sabem disso e por isso "capricham" nesse tipo de serviço.


A maioria dos hotéis e guest houses para mochileiros é bem básica, sem luxo nenhum. Alguns são quase cortiços pra falar a verdade!!! No meu quarto requisitei somente dois "luxos": double bed e banheiro dentro. A ducha é fria pois não existe razão pra gastar com água quente naquele calor. Também existe a opção de ar-condicionado e ventilador no teto. O segundo é o mais barato, é claro.


O bom foi que, chegando ao quarto descobri um outro item o qual eu não havia pedido: janelas!!! Sim, em alguns casos vc vai pagar mais por um quarto com janelas. Nesse caso a recepcionista do hotel deve ter ido com a minha cara. Mas tirando isso e o calor de colar a camisa nas costas, a viagem serviu pra me dar a certeza de que a cidade é realmente fantástica.


Eduardo Oliveira /Preview.com


A população da Malásia é composta por malaios (60%. Destes, maioria é islâmica), chineses (25%) e indianos (10%). O resto da população é composta por eurasiáticos, cambojanos,

vietnamitas e tribos indígenas.


Kuala Lampur é religiosamente tediosa se comparada com à capital tailandesa. A capital da Malásia parece mecânica: tudo no lugar, tudo na hora certa. Sem falar que por se tratar de um país muçulmano o dia-a-dia acaba se tornando monótono.


Bangkok é correria pura, começando pelo número de habitantes: são 6 milhões, exatamente o dobro da Kuala Lumpur. Os tradicionais tuc-tucs estão em todo o lugar; o número de turistas é gigantesco e a comida vendida pelos ambulantes é deliciosa, você pode se esbaldar de comer na rua mesmo, sem precisar entrar em restaurante nenhum.


Com ares de primeiro mundo, Tailândia reflete realidade econômica distorcida


Os jornais tailandeses também são outro ponto positivo. O "The Bangkok Post" e o "The Nation" são os dois de língua inglesa e são infinitamente superiores aos da Malásia em tamanho e conteúdo. Enquanto na Malásia criticar o governo é algo completamente fora de cogitação, na Tailândia eles falam abertamente sobre a atual situação política do país que em setembro teve seu Primeiro Ministro deposto por um golpe militar.


Um dos pontos negativos é que, assim como acontece no nordeste do Brasil e em alguns outros tantos pontos do mundo, uma grande fatia dos milhões de visitantes anuais vem em busca de turismo sexual. É muito comum ver europeus na casa dos 50 anos, acompanhados por garotas (e até garotos) tailandesas com a metade da idade deles. Em Khao San Road, onde a maioria dos turistas ocidentais fica hospedada, o tempo todo você é abordado por "agentes" dispostos a lhe mostrar o catálogo de garotas. Uma grande parte delas é chinesa e conversando com um desses cafetões descobri que elas chegam ao país através de uma complexa rede de tráfico de prostitutas que também abastece Dubai (capital dos Emirados Árabes), no Oriente Médio, e Europa.


Mesmo a Tailândia estando longe de ser um país de primeiro mundo sua capital exibe claros traços de ser uma cidade moderna nos traços futuristas de arranha-céus e avenidas e no famoso Sky-Train. Grande parte desse desenvolvimento veio durante a guerra do Vietnã, quando o país se aliou aos EUA fornecendo tropas no patrulhamento de fronteira e reprimindo internamente qualquer movimento político de apoio aos comunistas do país vizinho. Fora isso, a cidade se tornou uma espécie de playground para as tropas americanas que durante as folgas viajavam aos milhares para desfrutar os prazeres de Bangkok e fomentar o então crescente, turismo sexual do país.


Em retribuição, os americanos investiram muito dinheiro na cidade. Isso fez emergir uma classe média grande o suficiente para comprar os produtos de empresas americanas estratégicamente instaladas na cidade para suprir as necessidades de consumo dessa mesma classe média. O resultado disso foi uma metrópole gigantesca com ares de primeiro-mundo, refletindo uma realidade econômica distorcida, diferente do resto do país ainda pobre e atrasado.


Laos

O Laos, assim como o Vietnã e o Camboja, fazia parte da Indochina, a ex-colônia francesa na Ásia. Em 1954, depois de quase uma década de guerra, os comunistas do Pathet Lao, grupo guerrilheiro local, expulsaram os franceses. Com a invasão americana do Vietnã na década seguinte, eles passaram a dar apoio logístico aos Vietcongues e entre 1965 e 1973 os Estados Unidos despejaram no nordeste do Laos mais bombas do que jogaram na Europa e no Pacífico durante toda a Segunda Guerra Mundial. Isso deu ao país o triste recorde de ser a nação mais bombardeada do planeta até hoje.


Templos budistas e monges podem ser vistos em toda Vientiane a todo momento


Uma das coisas mais engraçadas a esse respeito, talvez a única, é uma cédula de 500 khips (a moeda local) que circulou até poucos anos atrás que tem no seu verso a gravura de soldados lao metralhando aviões americanos. Fora isso pode se ver aqui e ali muitos artefatos de guerra decorando casas ou estabelecimentos comerciais.


Por ser considerada uma nação sub-desenvolvida (ocupa 133ª posição no ranking de IDH) é muito comum ver pick-ups da ONU circulando pelas ruas. Muitas ONGs também tem escritórios por lá, desenvolvendo projetos humanitários.


Banhada pelo rio Mekong, Vientiane , a capital do Laos, é uma cidade pequena. Tem as principais ruas abarrotadas de tuc-tucs e motonetas. Os templos budistas podem ser vistos em todo o lugar e monges caminham pelas ruas a todo o momento. A comida e hospedagem são muito baratas e a população apesar de não falar inglês lhe atende sempre muito bem. Aliás, no país todo é assim.


No hotel em que me hospedei tive uma bela surpresa, o recepcionista não conseguiu esconder a felicidade quando descobriu que eu era brasileiro e torcedor do Internacional. Todos na cidade assistiram o jogo e ainda estavam impressionados com a vitória colorada sobre o Barcelona.


De lá segui para Vang Vieng, um vilarejo em meio as montanhas famoso entre os turistas ocidentais pela prática de esportes como rafting e montanhismo. Ficamos apenas uma noite pois precisavamos somente descansar. No dia seguinte continuamos a viagem para Luang Prabang, a ex-capital do Laos e a segunda maior cidade do país.


Luang Prabang é o destino da maioria dos turistas que visitam o país e assim como Vientiane, possui um sem número de templo budistas e também é banhada pelo rio Mekong. Caminhando por suas ruas você pode enxergar na arquitetura das casas muitos traços dos tempos em que o Laos foi colônia francesa.


Acabei ficando lá mais tempo do que o esperado. Nos dois últimos dias fiz um trekking pelas montanhas da região e passei a noite em um vilarejo lao.


Eduardo Oliveira /Preview.com


Mercados flutuantes: ícones de Ásia pelo mundo


O clima em Bangkok estava um pouco pesado quando retornei. Com os atentados de 31 de dezembro havia mais policias e soldados do exército nas ruas, que desde o golpe militar.


O tempo era curto e decidi visitar o Floating Market que fica em Damnoen Saduak, cidade distante duas horas. O lugar é uma espécie de “Mecca” para travel photographers e realmente exala uma magia e mas o exotismo já nem tão único uma vez que todo dia milhares de turistas visitam esse lugar cujas imagens se tornaram um ícone dos cartões postais no mundo todo. À tarde voltei pra Bangkok e andei mais um pouco pela cidade. A noite fui fazer uma sessão de “thai massage”, daquelas de estalar até orelha, pra chegar bem relaxado em Kuala Lumpur.

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